A nova geração não tem qualquer conhecimento de alguns usos, costumes e tradições. Apenas os mais idosos se lembrarem, no entanto, está a começar-se a retomar as antigas tradições que quase esquecidas são ainda dignas de apreço.
Resumo dos principais itens que se seguem: Cantares das Janeiras; Dia dos Reis; Carnaval; Quarta-feira de Cinzas; Domingo de Ramos; Visita Pascal / Páscoa; São João; Quinta-Feira de Ascensão; Dia de Santa Cruz; Romarias; Medicina;
Os pitorescos Cantares das Janeiras são constituídos, de dia, por crianças que andam de porta em porta com um saquito a pedir as Janeiras, À noite, por adultos que, com vários instrumentos, cantavam assim:
Estas casas são bem altas, forradinhas de cortiça, venham dar as Janeiras, ou de carne ou de chouriça; Levante-se minha senhora, dessa cadeira de prata, venha dar as janeirinhas, que está um frio que mata; Estas casas são bem altas, forradinhas de papel, venha das as janeirinhas, em louvor de São Miguel”;
Quando os donos da casa eram generosos e tinham correspondido ao pedido, estes agradeciam com uma quadra em que toda a família era contemplada:
“Esta família sagrada, recebeu-nos com alegria, Deus lhe dê muita saúde, pedimos à Virgem Maria”;
Mas, se pelo contrário as donas da casa não davam nada, então a despedida era diferente e um pouco mal educada:
“Telinca martelo, torna a telincar, são filhos da puxxx, não nos querem dar”;
Logo a seguir às Janeiras vem o Dia dos Reis, todo o povo tinha muito respeito por este dia que era considerado como feriado.
Diziam os antigos que neste dia o diabo andava três horas fora do inferno e, com receio que lhes sucedesse algum mal ninguém trabalhava nem se afastavam da povoação. Faziam junto do adro da igreja um pequeno bailarico, as crianças voltavam com as saquitas a pedir os reizinhos.
Ainda o Carnaval vinha longe e já nesta aldeia tinham por tradição deitar as “paneladas” que consistia em deitar para dentro das casas os para os seus degraus cântaros de barro com bugalhos, areia feijões, milho, enfim, o que lhes lembrava.
Diziam os antigos que as comadres sempre muito lambareiras, mas só o não eram pelo Carnaval, pois os compadres ganhavam-lhes. Assim, na quinta-feira dos compadres, estes visitavam-se cantando:
Quinta-feira dos compadres, nós os vimos visitar, diga lá, senhor compadre, o que tem para nos dar; Ó vira, ó vira, o meu compadrinho, venha o presunto, e o copo do vinho;
Na semana seguinte cabia a vez às comadres, que se vestiam de Entrudo e se visitavam cantando:
“É hoje quinta-feira; quinta-feira das comadres, só as vêm visitar, quem delas tem saudades”;
Propriamente no Carnaval os bailes eram feitos no largo principal da freguesia, velhos e novos cantavam e dançavam ao som de um velho harmónico ou de uma concertina. Outras vezes dançavam ao som das vozes dos rapazes e das raparigas.
Na Quarta-feira de Cinzas era queimado o Entrudo representado por um boneco de palha com bombas dentro (era um autentico funeral). À tarde, um grupo de rapazes, andavam de casa em casa, com um grande funil, a anunciar a hora do enterro. À noite, toda a gente se juntava no lugar onde o palhaço se encontrava, Depois, um rapaz vestido de padre e outro de sacristão, davam inicio ao funeral e todo o povo dava a volta à rua gritando que lhes tinha morrido o pai da fartura.
Em seguida, o palhaço era queimado ouvindo-se o rebentamento das bombas. No final, era lido o testamento por ele deixado, com piadas a determinadas pessoas.
Subsistia também uma tradição curiosa: A anteceder a Páscoa, durante a Quaresma e depois da ceia, vozes timbradas lembravam ao homem a sua condição de mortal e de pecador, cantando a Encomendação às Almas. Era um costume que consistia em grupos de pessoas que iam até junto das alminhas que se erguem junto dos caminhos antigos lembrando aos viandantes os seus deveres para com Deus ou para aqueles que os precederam na terra, cantando ou rezando:
“Recordai que estais dormindo, nesse sono em que estais, recordai das vossas mães, e também dos vossos pais; Recordai que estais dormindo, nesse sono tão profundo, lembrai-vos das benditas almas, que lá estão no outro mundo”;
Também era essa a tradição os antigos cantarem o toque das trindades ao meio-dia e pôr do sol, toda a gente parava e guardavam uns momentos de silêncio em louvor da Santíssima Trindade. Presentemente já não tem grande aceitação nas camadas mais jovens.
Umas das tradições mais alegre da nossa aldeia é a de Domingo da Paixão ou Domingo de Ramos, em que praticamente todo o povo vai à missa benzer o louro, alecrim e algumas hastes de oliveira, para queimarem durante o ano quando há trovoada.
No Domingo seguinte temos a Visita Pascal em que o Senhor Padre visita com uma cruz todas as famílias aspergindo água benta e saudando todos os familiares e vizinhos.
Depois, os Santos Populares integram hábitos e crenças religiosas, assim:
Pelo São João, no largo da igreja iluminado por um gasómetro (candeeiro com carbureto) dançavam-se todas as melodias que se cantavam nos campos pelas sachas do milho e “segadas”.
Dançavam o “repimpim” e a ponteada, o vira de quatro dançando em cruz, o fado mandado pelo homem mais amigo e reinadio. Dava-se a volta à freguesia com o harmónico a tocar e o povo a dançar. De entre outros versos, um deles era:
“S. João era bom Santo, se não fosse tão maroto, levava as moças p’ra fonte, levava quatro e vinham oito”;
Ainda pelo São João, as Sortes:
A Sorte dos Papelinhos: consiste fundamentalmente em se escrever em cada um de três papelinhos o nome de um entre três rapazes preferidos; depois, esses papelinhos colocam-se sobre o travesseiro, à meia-noite do S. João e na manhã seguinte tira-se ao acaso um deles, que indica o nome do pretenso marido.
A Sorte do Ovo: consiste em se partir um ovo à meia-noite de S. João, dentro de um copo de água que se deixa ao relento; na manhã seguinte, antes de nascer o sol, observa-se as formas que as claras tomaram.
A Sorte do Bochecho: à meia-noite da véspera de S. João, a rapariga lança um bochecho de água à rua e o primeiro nome de homem que ouvir é o do futuro marido.
Quinta-feira de Ascensão era mais um dos dias aguardados pelo povo desta localidade. Era um feriado em que os antigos nem sequer faziam comer nesse dia, era feito no dia anterior. Diziam os antigos que:
“Se os passarinhos soubessem, que era Quinta-feira d’Ascensão, nem saíam dos seus ninhos, nem punham os pés no chão“;
As pessoas diziam que nesse dia as ervinhas estavam bentas e apanhavam as ervas para tomarem durante o ano. Era também tradição apanharem o ramo a que chamavam espiga, que simbolizava a fertilidade dos campos e a abundância do pão macio que se conserva sem ganhar bolor até igual data do ano próximo em que à mesma hora se come.
Nesta aldeia havia também o costume que devia ter a sua origem em ritos pagãos campestres, que o cristianismo manteve com a bênção dos campos todos os anos a 3 de Maio, Dia de Santa Cruz. É um dia em que todas as pessoas fazem grandes cruzes com alecrim e louro e vão colocar nos terrenos que cultivam, para que Santa Bárbara lhes dê boas colheitas e as livre de todas as intempéries.
Desenvolveu-se um conjunto de usos, costumes e tradições que constituem um interessante património etnográfico já não muito vulgar. Muitos deles estavam intimamente ligados à produção económica local de base agrícola. Era o caso da cava das terras e sachas do milho; as vindimas, as desfolhadas nocturnas. Mas a curiosidade destas tradições é que se faziam por troca ou seja, voluntário e de ajuda mútua.
As romarias são uma das formas mais ricas de tradição local. Elas são, fundamentalmente, celebrações religiosas em honra de qualquer santo ou invocação divina, patronos de uma localidade ou de um santuário, compreendendo missa de festa, esta com sermão e prática e, a maior parte das vezes com procissão.
As romarias pressupõem uma mordomia, confraria ou comissão, constituída segundo regras costumeiras, que tem a seu cargo a conservação do santuário e organização da festa. Nesse dia, os seus membros, de opa, zelam pela ordem e, à entrada do templo recebem os óbulos (promessas) e dão os registos com as imagens.
As romarias são em regra, precedidas de um peditório a cargo dos mordomos e que têm lugar normalmente ao domingos. Os donativos em espécie e dinheiro são recolhidos pelos mordomos e por outras pessoas por estes convidados para tal.
A riqueza etnográfica Sampaense compreende também festas e romarias.
A 27 de Junho comemora-se a festa em honra do Mártir S. Pelágioonde derivou o nome da povoação. É uma festa praticamente só para a povoação é a festa mais antiga da povoação que se optou por realizar no último domingo de Junho.
No mês de Agosto é de salientar a Romaria da Nossa Senhora dos Milagres, no dia 15 de Agosto, que faz afluir à velha dinâmica muitas centenas de romeiros de todas as redondezas. Houve anos em que ganhou o titulo da melhor romaria.
A romaria começava com uma novena e pregação. No dia que antecedia a romaria, havia uma procissão nocturna com a imagem da Senhora, fazia-se à luz de velas levadas pelos acompanhantes, o que dava um efeito encantador. Na maioria das ruas por onde a imagem passava as casas e muros encontrava-se também cheios de velas a iluminarem.
No dia quinze toda a povoação e vizinhanças acordam ao som de uma estrondosa alvorada. Logo pela manhã chega a tradicional filarmónica que acompanha com os seus cânticos a missa da festa, à tarde há a procissão em que vão inúmeros anjinhos e fogaças e estas leiloadas no final.
À noite há o tradicional arraial. Até uma certa hora com a banda filarmónica e depois com um conjunto musical. À uma hora da manhã é estoirado um grandioso fogo de artificio, o maior dos concelhos limítrofes.
Esta pequena povoação também no dia 1 de Novembro tem por hábito o culto dos mortos. Nesse dia, todos os familiares lhe vão prestar homenagem enfeitando de uma maneira especial as suas campas e pondo velas e luzes de azeite.
Por último vem a tradição da fogueira do Natal. Dois ou três dias antes vão às matas buscar cepos. Junto ao adro da igreja vai ficando um monte de cepos que se ascendem na noite de Natal e que costumam ficar a arder até ao inicio do Ano Novo.
Ainda no dia de Natal, são cantados na missa cânticos dedicados ao Menino Jesus e toda a gente o vai saudar com um beijo.
Usos e Costumes na Medicina
Subsiste no local, quase acabado, um ritual mágico de medicina supersticiosa, traduzindo em aplicações como a cura da peçonha, inflamação dermatológica que procura eliminar-se com azeite, sal e palhas (palha de alho), enquanto pronunciam as seguintes palavras julgadas capazes de poder intervir no processo terapêutico:
“Eu te mato, eu te corto, sejas cobra ou cobrão, lagarto, lagartão, aranha ou aranhão, ou bicho de nação, eu te corto a cabeça, para que mais não cresça!”
Também para curar um criança “aguda”, um pessoa amiga deverá tirar um pedaço de massa de nove pães (antes de irem ao forno) e com os nove bocadinhos se faz um bolo que se dá à criança sem que ninguém veja.
Os seus habitantes são gentes simples que ainda usam ervas e chás para curar doenças e queimam o louro e o alecrim bento, em dias de trovoada, enquanto se reza a oração a Santa Bárbara:
“Santa Bárbara se levantou, seus sapatinhos calçou, e ao caminho se deitou, Jesus Cristo encontrou, – Santa Bárbara, onde vais? – Eu com o Senhor irei, – Tu comigo não irás, nesta terra ficarás, a afastar as trovoadas, que no céu andam armadas, p’ra onde não haja eira nem beira, nem pé de figueira, nem alminha cristã, nem novelinho de lã”.
Para endireitar a espinhela dizia-se:
“Enquanto o padre se veste e reveste, e sobe ao altar a espinhela deste corpo, vá ao seu lugar”.
Estas palavras são ditas e ao mesmo tempo estão a fazer-se pequeninas cruzes com azeite nos pulsos três vezes. No final, em louvor da Nossa Senhora reza-se uma Salvé Rainha. O braço que está mais curto vai-se puxando a cruz que se está a fazer por cima.
Para o mal de inveja dizia-se esta reza três vezes:
“Tens cabrito ou cabrão, eu te corto as pernas, a raiz e o coração”.